A história contada por Tchekhov tem como personagem central o médico-chefe de um hospital que acabou sendo internado na ‘Enfermaria nº 6’, onde passaria a conviver com doentes mentais. Nessa enfermaria, que ficava anexa ao hospital, cinco pacientes eram supervisionados por Nikita, que os observa com todo o rigor e crueldade.
Um desses pacientes ocupava importante posição social, outro, um judeu chamado Moseika ficou demente aos vinte anos, quando sua oficina foi completamente destruída por um incêndio. Moseika é o único interno que tem permissão de sair do pavilhão e mesmo do hospital. Sai pelas ruas para mendigar, e quando retorna Nikita toma-lhe o dinheiro que recebia como esmola.
Ivan Dmitri Gromov , demente, chega a ser posto a ferros, como ocorria com os degredados. Sofria de mania de perseguição. Examinado pelo Dr. Ranguin, este o encaminha para a Enfermaria nº 6. O quinto paciente a ser internado foi ex-funcionário dos correios, que costumava a falar com Gromov das condecorações que dizia ter recebido.
O hospital era dirigido pelo Dr. Ranguin, que aspirava seguir a carreira teológica, mas foi impedido pelo seu pai, também médico, que insistiu para que o filho seguisse a sua profissão, intento que teve êxito. O Dr. Ranguin homem corpulento, com tom de voz baixo, movimentava-se com certa lentidão, e era, em muitos aspectos, uma pessoa contraditória. Não se vestia como médico, e demonstrava indiferença no que dizia respeito à sua aparência. Também acha o hospital é uma instituição imoral, que em nada contribuia para a saúde dos pacientes.
O trabalho do Dr. Ranguin era extenuante. Sentia-se cansado pelo trabalho e pela monotonia do hospital, que a cada dia era mais monótono. Achava que o seu trabalho como médico era inútil. Num dia atendia 30 pacientes, no outro 35, depois 40, num ramerrão terrível que abrangia meses e anos. Chegou a atender 12 mil pessoas num só ano. O Dr. Ranguin sentia que o seu trabalho era uma fraude.
A vida do Dr. Ranguin, já tomada pelo desânimo, sofre uma mudança expressiva: deixa de comparecer ao trabalho todos os dias, e quando vai hospital defronta-se com os mês aborrecimentos que o afligiam ao longo dos anos. Quando volta para casa dedica-se à leitura de obras de filosofia, biologia e história. Em determinado dia faz uma visita à Enfermaria nº 6 para conversar com o interno Gromov, o que viria a repetir-se por vários dias.
O Dr. Ranguin percebe que o doente mental, Gromov, é pessoa muito inteligente, e logo sente ser ele um bom parceiro para conversar. Essas repetidas visitas e as longas conversas como o interno Gromov começa a causar estranheza em todos os funcionários do hospital, até que o Dr. Khobotov percebeu que seu colega não estava bem de suas faculdades mentais. Depois dessa conversa, o Dr. Ranguin começa a notar que o tratam com estranheza.
Uma carta foi entregue ao Dr. Ranguin, que tinha como remetente o prefeito, que o convidava para uma reunião, e que parecia ser importante. Lá chegando encontrou, além do prefeito, o chefe da guarnição, superintendente do distrito escolar, um membro do conselho, o Dr. Khobotov e um outro médico. O Dr. Ranguin sentiu-se desconfortável ante essa recepção.
O Dr. Khobotov pergunta-lhe qual a data do dia da semana, quantos dias tem o ano; pergunta-lhe, ainda, se é verdade que o interno Gromov é um notável profeta. O Dr. Ranguin responde-lhe que se trata de um rapaz muito inteligente. Nessa altura dos acontecimentos o Dr. Ranguin já tinha percebido que o seu estado mental estava sendo submetido à prova.
Nesse mesmo dia, à noite, o chefe dos correios, vai até a casa do seu amigo, o Dr. Ranguin, para dar-lhe o conselho de que deveria sair de férias, que, segundo o Dr. Khobotov a viagem seria benéfica para sua saúde. Seu amigo não poupou esforços para convencê-lo a acompanhá-lo a Moscou, São Petersburgo e Varsóvia. Na sua volta encontra o Dr. Khobotov ocupando o seu lugar, facto que o levou a procurar outro lugar para alojar-se.
A Enfermaria nº 6, que é um dos contos mais longos de Tchekhov, termina de forma trágica: desempregado, o Dr. Ranguin não tem meios para pagar o aluguer, e seu destino acaba sendo a Enfermaria nº 6, na qual é internado na condição de doente mental. O Dr. Ranguin passou então a usar o roupão azul dos dementes da Enfermaria nº 6. A sorte, no entanto, não o abandonou: um ataque de apoplexia levou-o à morte, um dia após ter sido internado no pavilhão dos dementes. [Ver Anton Tchekhov, Mestre do Conto.]
Fonte: Pedro Luso de Carvalho
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Escolheu viver como queria
Entre meados do século XIX e o início do século XX os ocidentais parecem ter descoberto o deserto - ou pelo menos o romantismo do deserto, o apelo existencial do deserto. Rimbaud, Lawrence das Arábias, Isabelle Eberhardt, são apenas alguns dos que, talvez repugnados pelo spleen da velha Europa, descobriram uma outra vida.
Não serão muitas as mulheres que tiveram a força, ou sequer o desejo, de romper de forma total com as convenções do seu mundo naquela época - mudando de país, de religião, e, pelo menos na aparência, de género. Isabelle Eberhardt (1877-1904) morreu muito cedo, o que também não foi caso único entre estes viajantes de alma deslocada. Era filha de uma aristocrata luterana de família russa e de um anarquista de origem arménia, convertido ao Islão, que nunca assumiu a paternidade de Isabelle.
A própria mãe de Isabelle se converteu ao Islão, juntamente com a filha, quando de uma viagem ao Norte da África, em 1897. Isabelle já falava árabe desde os 12 anos. A sua mãe morreu nesse mesmo ano; Isabelle ficou na Argélia e, pouco depois, colocou-se ao lado dos nativos numa luta contra o domínio francês. Ao longo da sua breve vida, várias vezes se manifestou contra os colonizadores, o que foi mais um motivo para chocar a sociedade europeia da época e para que suspeitassem de que pudesse ser espiã.
Isabelle escolheu viver como queria. Para poder desfrutar da sua liberdade o mais possível, vestiu-se de homem (já o fazia, aliás, na Europa). Agora, com ambos os pais mortos e os irmãos encaminhados para um modo de vida tradicional, Isabelle instalou-se definitivamente no norte da Argélia. Trajando como um homem beduíno, viveu algum tempo como nómada, aventurou-se pelo deserto e participou na sociedade muçulmana, com o nome de Si Mahmoud Essadi, assumindo um modo de vida e uma fé (chegou a ter contactos com uma seita sufi) que sentia serem a sua vocação.
Em 1901 casou com Slimane Ehnni, um muçulmano de nacionalidade francesa, que dizia dela ser "a minha mulher Isabelle e o meu companheiro Mahmoud". Dessa forma, obteve ela mesma a nacionalidade francesa. Três anos mais tarde, Isabelle morreu subitamente, vítima de uma enchente do rio que fez derrubar a casa de terra batida onde acabara de se instalar. O marido sobreviveu três anos.
Isabelle deixou vários escritos sobre a sua vida - diários, relatos de viagem, ficção, e os artigos que publicou como repórter de guerra para o jornal Akhbar.
«Posso passar completamente despercebida por qualquer lugar, uma posição excelente para a observação. Se as mulheres não podem fazê-lo é porque a sua roupa chama a atenção. As mulheres foram sempre feitas para serem olhadas, e no entanto não parecem muito preocupadas com este facto. Creio que esta atitude dá demasiadas vantagens aos homens.»
Fonte: http://obviousmag.org/
terça-feira, 20 de julho de 2010
Bonequinhas Kokeshi
Estas bonecas representam um aspecto da fascinante cultura japonesa.
Uma curiosidade metafórica é sobre a origem do nome destas bonecas.
Embora o nome oficial da Kokeshi seja "小芥子", sua verdadeira denominação original seria "子消し", significando "crianças perdidas". Na região de Tohoku, quando as vilas enfrentaram intensa escassez de alimentos, crianças foram sacrificadas e serviram de alimento - e esta seria a razão para a perda dos braços e pernas destas antigas bonecas.
sábado, 17 de julho de 2010
Sushi
A culinária japonesa é conhecida por rica e saudável.
Existe uma gama de pratos diferente de sushi.
Vou aqui apresentar um dos pratos do sushi, mas não se esqueçam que o melhor é conhecer mesmo, o tal ambiente onde tirem os sapatos e se sentem no chão.
Prepare o sushi da seguinte maneira: em uma esteirinha de madeira ou papel alumínio coloque 1 folha de alga, com a face brilhante para baixo. Divida o arroz em 2 partes.
Distribua em cada folha 1 porção de arroz (espalhe o arroz com a ponta dos dedos molhados em água ou com as costas de uma colher de sopa molhada), até obter uma camada homogénea, tomando o cuidado de deixar as bordas livres para depois poder enrolar).
Coloque metade da quantidade do Atum e os palitos de pepino, formando uma tira (não espalhe o recheio sobre o arroz). Com a ajuda da esteirinha, enrole a alga em volta do arroz recheado, formando um rocambole. Pressione a esteirinha em volta do rolo para modelar. Feche as beiradas da alga com a ponta dos dedos molhados.
Com uma faca de cozinha bem afiada, corte cada rolo em cerca de 12 fatias de aproximadamente 1,5 cm.
Sirva os rolinhos acompanhados com molho de soja.
Para fazer o arroz: lave bem meia xícara (chá) de arroz próprio para sushi, esfregando-o com as mãos, até a água ficar transparente. Coloque numa panela e junte 1 xícara (chá) de água. Deixe descansando por 30 minutos. Tampe a panela e cozinhe em fogo baixo por 20 minutos ou até o grão ficar macio. Retire a panela do fogo e deixe descansando, tampada, por cerca de 5 minutos.
Em uma tigela, junte 1 colher (sopa) de vinagre de arroz, 1 colher (chá) de açúcar e meia colher (chá) de sal. Misture até ficar bem dissolvido.
Transfira o arroz para uma tigela grande e acrescente a mistura de vinagre, incorporando delicadamente com a ajuda de uma espátula de madeira ou garfo molhado em água. Deixe esfriar em temperatura ambiente, antes de utilizar.
- Se a alga não for “yakinori” (pré-tostada), segure cada uma com uma pinça e balance sobre o fogo por alguns segundos até ficar crocante, para obter um sabor mais adocicado e delicado.
Existe uma gama de pratos diferente de sushi.
Vou aqui apresentar um dos pratos do sushi, mas não se esqueçam que o melhor é conhecer mesmo, o tal ambiente onde tirem os sapatos e se sentem no chão.
Prepare o sushi da seguinte maneira: em uma esteirinha de madeira ou papel alumínio coloque 1 folha de alga, com a face brilhante para baixo. Divida o arroz em 2 partes.
Distribua em cada folha 1 porção de arroz (espalhe o arroz com a ponta dos dedos molhados em água ou com as costas de uma colher de sopa molhada), até obter uma camada homogénea, tomando o cuidado de deixar as bordas livres para depois poder enrolar).
Coloque metade da quantidade do Atum e os palitos de pepino, formando uma tira (não espalhe o recheio sobre o arroz). Com a ajuda da esteirinha, enrole a alga em volta do arroz recheado, formando um rocambole. Pressione a esteirinha em volta do rolo para modelar. Feche as beiradas da alga com a ponta dos dedos molhados.
Com uma faca de cozinha bem afiada, corte cada rolo em cerca de 12 fatias de aproximadamente 1,5 cm.
Sirva os rolinhos acompanhados com molho de soja.
Para fazer o arroz: lave bem meia xícara (chá) de arroz próprio para sushi, esfregando-o com as mãos, até a água ficar transparente. Coloque numa panela e junte 1 xícara (chá) de água. Deixe descansando por 30 minutos. Tampe a panela e cozinhe em fogo baixo por 20 minutos ou até o grão ficar macio. Retire a panela do fogo e deixe descansando, tampada, por cerca de 5 minutos.
Em uma tigela, junte 1 colher (sopa) de vinagre de arroz, 1 colher (chá) de açúcar e meia colher (chá) de sal. Misture até ficar bem dissolvido.
Transfira o arroz para uma tigela grande e acrescente a mistura de vinagre, incorporando delicadamente com a ajuda de uma espátula de madeira ou garfo molhado em água. Deixe esfriar em temperatura ambiente, antes de utilizar.
- Se a alga não for “yakinori” (pré-tostada), segure cada uma com uma pinça e balance sobre o fogo por alguns segundos até ficar crocante, para obter um sabor mais adocicado e delicado.
A vida é inesperada!
Nunca acordaram, num Domingo de manhã, a pensarem que iriam ter um dia aborrecido? Com aquela disposição de mau humor?
Pois é, às vezes acontece-nos. Mas um acaso pode modificar o nosso dia e,inesperadamente, surgir algo diferente.
Ser convidada para um restaurante japonês e conhecer pessoas muito heterogéneas.
Experimentei o sushi e acabei na praia a fazer yoga com uma argentina, uma alemã, uma senhora espanhola casada com um português. Posso dizer que foi uma tarde muito "internacionalista". Esqueci-me de dizer que Alícia, a professora de yoga está casada com um japonês. E ainda conheci uma senhora de mais de 80 anos, com um aspecto e uma mente maravilhosa.
A vida é inesperada!
As fotos tirei-as quase no final da refeição, por isso os pratos estão muito incompletos.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
O cheiro da maresia
Gostaria de ter um encontro com o mar todos os dias. O cheiro da maresia enche-me a alma.
Quando ouço o bater das ondas, apetece-me descalçar e sentir a areia molhada escorrer entre os dedos.
Esta semana fui duas vezes vê-lo, à noite. Inspirei e senti-o. O mar agarrou-se na minha pele e beijou-me o rosto.
É uma sensação única!
Esta foto tirei-a num fim de tarde, na praia da Madalena.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Arte e vinhos
A Arte e Vinhos casaram no Aliança.
No Sábado, um grupo de amigos rumaram até Bairrada.
Conhecer uma parte da colecção do comendador Berardo é deveras interessante.
Cerca de "um quilómetro e meio" de área de cave estava desaproveitado. E agora, quem a visita poderá deliciar-se com esta colecção, desde a arte africana, aos corais e fósseis...
E não esqueceu a arte popular de Rafael Bordalo Pinheiro!
As andorinhas que Bordalo representa estão presentes em muitas casas portuguesas.
Uma arte, infelizmente, nem sempre apreciada.
O néctar dos Deuses
A Bairrada já terá sido afinal no passado uma terra de passagem e de conquistas, de lutas entre cristãos e árabes, aquando da formação de Portugal e numa altura em que a capital do reino era Coimbra. Marco na história da região é ainda o combate contra os exércitos invasores de Napoleão, na serra do Bussaco.
Reflexo de todas as convulsões históricas, mas também factor de desenvolvimento económico na região é a actividade vitivinícola da Bairrada. Reza a história que já no século XIX, os viajantes vinham a estas paragens para degustarem as iguarias gastronómicas e báquicas. Mas a existência de vinhedos na Bairrada remonta a origens mais longínquas.
É no século XII que D. Afonso Henriques autoriza a plantação de vinhas na região, a troco de uma parte do vinho produzido. Seis séculos depois, uma ordem do Marquês de Pombal determina o arranque de uma parte da vinha. Terá sido ainda no século XVIII, já no reinado de D. Maria I, que é autorizado novamente o plantio de cepas, permitindo o repovoamento na região.
Quanto à origem da designação Bairrada, os eruditos entendem que está relacionada com as características do solo da região, onde o barro é um elemento predominante.
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